quinta-feira, 7 de julho de 2011

Teixeira-PB, POESIA; Escrito por Maria do Socorro Xavier







LEMBRANÇAS DA  INFÂNCIA


Maria do Socorro Xavier Batista


É tão bom no tempo voltar
Lembranças com aura de magia
Nos faz reviver, sorrir e chorar
Reminiscência d'alma evidencia

Relembrar a terra molhada
Em suas veias água escorrer
Depois de uma chuvarada
Fazendo tudo enverdecer

O verde da folha orvalhada
Toda seiva para alimentar
Os raios da linda alvorada
Com tanta água pra se fartar

É com alegria que o sertanejo
Depois da seca vê o inverno
Céu cinzento e benfazejo
Sair do que parece o inferno

Quando chega o mês de junho
O sanfoneiro toca sem dó
Atraca a sanfona em punho
Em terreiro, salão e cafundó.

É forró nas festas juninas
Com xote, baião e xaxado
Homem mulher e meninas
Ninguém pode ficar parado

Dançar volteando que alegria
Na quadrilha todos têm par
Todo mundo no ritmo mexia
Com seus pares a revolutear

Da pedra do Tendó os olhares
Viam chão de estrelas no sertão
Luzes lembram astros estrelares
Mas eram fogueiras de São João

Na imensa depressão do sertão
Dali parecia que era suspenso
Flutuando em meio à escuridão
Em meio ao universo imenso

Lá na cidade de Teixeira
Com o tempo da invernada
Todos correm pra biqueira
Tomar banho na calçada


Nos tanques dos lajedos
Território das lavadeiras
Também eram os rochedos
De banho e brincadeiras

Nos açudes bem cheios
Iam todos banhos tomar
Era lugar dos passeios
De se aprender a nadar

Nesse tempo tem fartura
Milho verde pra comida
Pamonha, canjica que cura
Fome de todos sem medida

A brincadeira de casinha
Mobília comprada na feira
De barro era a panelinha
Feita por Joana louceira

Ao invés de fada madrinha
A boneca era de pano
Era chamada de bruxinha
Era infância do cotidiano

Antes de tanta novidade
O motor era a energia
Anterior à eletricidade
Que nos trouxe alegria
Quando chegou à cidade

A água era da cacimba
Antes da água encanada
Era preciso ter tarimba
Lata d'água equilibrada

Se tomar água do cacimbão
Sempre se retorna à cidade
A terra que se tem afeição
Expressão de hospitalidade

E nas noites de luar
Era tempo de brincar
As cantigas pra cantar
As danças de se rodar
Anel na mão a passar

O pião que rodopiava
Bola de gude que rolava
Três buracos circulava
Jogo de bola que matava

Tampas de garrafa tilintavam
Enquanto a bola de vidro subia
Mãos que do chão as arrastavam
Uma a uma assim o jogo seguia

Maturéia com seus baixios
Dos Dantas e sitio Santana
Nos leitos de pequenos rios
Durante a moagem da cana

Não havia engenhos vazios
Vinha gente toda semana
O mel quente que fazia fios
Durante a moagem da cana

Gente pra mexer rapadura
Fazer mel, garapa e alfenim
Faziam doce com fartura
Na moedura era assim

Nas férias agente aproveitava
Nos passeios tanta novidade
Mas ninguém nunca faltava
Às compras na feira da cidade

Pão doce com caldo de cana
Galinha com feijão e farinha
Das frutas só tinha banana
O resto tinha na barraquinha

Tudo se vende a granel
Estivas secos e molhados
Arreios, ornamento e anel
Tantos troços comprados

Não se perdia uma cantoria
Que na feira nunca faltava
Cantavam versos e melodia
Tanta palavra sempre rimava

O cordel é poesia popular
Sextilha e Mourão Voltado
Também nunca deve faltar
Sete pés e Martelo Agalopado

Quadra e Galope a Beira-Mar
Gemedeira e Toada Alagoana
São tantos gêneros de se cantar
O cantador nunca se engana

Pois o outro vem lhe desafiar
Da sua verve a palavra emana
Na hora tem sempre que rimar
Até evocando palavra insana

Também nunca poderia esquecer
Das amigas de tão boa companhia
Com Lolinha e Muce me vi crescer
Tantas coisas boas agente fazia

Juntando Madalena Marcelino
Janete, Pipi, Lelé e Nêga Nira
Éramos trelosas que nem menino
Aprontamos parece até mentira

Naquele colégio das freiras
Tudo fizemos pra pecar
Nada de boas maneiras
Roubamos frutas do pomar

Vivíamos pulando o muro
Pra no açude se banhar
E as freiras dando duro
Para nos catequizar

De todas casas que moramos
Foi num imenso casarão
O maior tempo que passamos
Nele tinha até assombração

Lembranças que não se esquece
Todo tempo é bom relembrar
É prazer da vida que não fenece
Voltam sempre a emocionar

Mesmo quando quero esquecer
Elas insistem sempre em voltar
Me fazem às origens regressar
Elas renovam parte do meu ser

João Pessoa 26/10/2002

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